sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O cutelo da lua


Sargaceira

A rosa de fogo
já desapareceu no mar.
Com a graveta,
afadigadamente,
a mulher arranca às ondas o sargaço.
Escrava,
sem queixumes,
como se não colhesse
pão salino e amargo,
a dobrar-lhe a espinha,
a açoitar-lhe as pernas,
a derrear-lhe os braços,
mas raízes-flor dos abismos,
resigna-se ao fardo dos dias.

O cutelo da lua
ceifa-os, inexorável.


Luísa Dacosta; A Maresia e o Sargaço dos Dias

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