quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Futuro no Presente: sonho


Pedra de Fecho

Sobre o presente escrevo. Raspo
a caliça do invólucro, tento
atingir o cerne emparedado.

Sobe até mim a esperança de supor
que serei ininteligível
aos leitores do futuro.

Penso que acreditarão mórbida
a minha "fantasia". Não poderão
entender este gosto de saliva
e veneno; esta floração
de artérias abertas sob a raiva.

Pensarão: "Que pavores o povoaram?
Como acreditar na falta de saúde
do tempo que descreve? Aceitaremos
este emissário da dor, este vazio
febril das mãos que estende?

Entre o papel e a luz escrevo
das moedas do agora. Pressagio
que não entenderão, que não serão
raros braços a arder os clarões na noite.

Egito Gonçalves, ( 8/4/1920-29/1/2001) 

                     Há sonhos que devem permanecer nas gavetas,
                      nos cofres, trancados até o nosso fim.
                      E por isso passíveis de serem sonhados a vida inteira.
                       Hilda Hilst, Brasil ( 21/04/1930- 4/02/2004)

Sem comentários: