segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Língua-variações

Salette Tavares
LÍNGUA PORTUGUESA

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela
Amo-te assim, desconhecida e obscura
Tuba de algo clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
                 Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
                                           Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
                                           E em que Camões chorou, no exílio amargo, 
                                           O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
 


                                      Olavo Bilac, Brasil, (16/12/1865-28/12/1918).

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