no mundo há poucos fenómenos do fogo,
ar há pouco,
mas quem não queria criar uma
língua dentro da própria língua?
o tempo doendo, a mente doendo, a
mão doendo,
o modo esplendor do verbo,
dentro, fundo, lento, essa
língua,
errada, soprada, atenta,
mas agora já nada me embebeda,
já não sinto nos dedos a pulsação
da caneta,
a idade tornou-me louco,
sou múltiplo,
os grandes lençóis de ar
sacudidos pelo fogo,
noutro tempo eu cobria-me com
todo o ar desdobrado,
havia tanto fogo movido pelo ar
dentro,
agora não tenho nada defronte,
não sinto o ritmo,
estou separado, inexpugnável, incógnito, pouco,
ninguém me toca,
não toco.
Herberto Helder , A faca não corta o fogo
Haiku
Ardendo de amor
as cigarras cantam;
mais belos porém
são os
pirilampos
cujo mudo amor
lhes queima os corpos.
( (versão de Herberto Helder)
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