São os rios
Somos o tempo. Somos a famosa
parábola de Heraclito, o Obscuro.
Somos a água, e não o diamante duro,
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos aquele grego
que se olha no rio. A sua visagem
muda na água da mutável imagem,
no cristal que muda como o fogo.
Somos o vão rio determinado,
rumo ao seu mar; pela sombra cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo se distancia.
A memória não cunha moeda.
E contudo há algo que se queda
e contudo há algo que se queixa.
parábola de Heraclito, o Obscuro.
Somos a água, e não o diamante duro,
a que se perde, não a que repousa.
Somos o rio e somos aquele grego
que se olha no rio. A sua visagem
muda na água da mutável imagem,
no cristal que muda como o fogo.
Somos o vão rio determinado,
rumo ao seu mar; pela sombra cercado.
Tudo nos diz adeus, tudo se distancia.
A memória não cunha moeda.
E contudo há algo que se queda
e contudo há algo que se queixa.
Jorge Luís Borges, Argentina (1899-1986)
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