segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Ir vivendo



(...) É fácil estar sempre alterando o jogo
 Variando o sentido das regras ad libitum
 ad hoc, ad gloriam, ad honores, ad nauseam
 ad verbum, ad litteram, sine ira et studio
 Pescando na excepção sempre outra coisa
 Dando ditos por não ditos, esquecendo o ter dito
 Com toda a simplicidade, sem má fé nenhuma
 Só porque viver é isto, uma salada de sucederes
 E a gente é pouco, a gente é assim mesmo, pequenos
 E estamos sózinhos habitando um saco de pele.



 Mudamos vírgulas, corrigimos provas
 Passamos inquietos sobre as cristas volúveis
 De inquietos ditongos, alteramos as pautas
 Lavamos as mãos em sangue indelével...
 Encerramos momentos-boda por garrafas gregárias
 E o nosso rasto é um eco pungente, fios de cheiro
Talhando contornos à neblina, modelando fantasmas
 Que ficam para trás para que acreditemos
 Que viver não foi assim tão completamente inútil
 E que ir vivendo não é nocivo, não é só irracional...
                                        (...) 
João Pedro Grabato Dias in  facto/fado,   ed do autor, Porto, 1986

1 comentário:

Eduardo Salavisa disse...

Uma fotografia de um largo em Abrantes...