(...) É fácil estar sempre alterando o jogo
Variando o sentido das
regras ad libitum
ad hoc, ad gloriam,
ad honores, ad nauseam
ad verbum, ad
litteram, sine ira et studio
Pescando na excepção
sempre outra coisa
Dando ditos por não
ditos, esquecendo o ter dito
Com toda a
simplicidade, sem má fé nenhuma
Só porque viver é
isto, uma salada de sucederes
E a gente é pouco, a
gente é assim mesmo, pequenos
E estamos sózinhos
habitando um saco de pele.
Mudamos vírgulas, corrigimos provas
Passamos inquietos
sobre as cristas volúveis
De inquietos ditongos,
alteramos as pautas
Lavamos as mãos em
sangue indelével...
Encerramos momentos-boda por garrafas gregárias
E o nosso rasto é um
eco pungente, fios de cheiro
Talhando contornos à
neblina, modelando fantasmas
Que ficam para trás
para que acreditemos
Que viver não foi
assim tão completamente inútil
E que ir vivendo não é nocivo, não é só irracional...
(...)
João Pedro Grabato Dias in facto/fado,
ed do autor, Porto, 1986
1 comentário:
Uma fotografia de um largo em Abrantes...
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