segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Cisnes



Cisne
Esta ave segue um extremo
No extremo do coração que canta contra razão
cantar quando mata o coração
não tem razão
Gil Vicente, Farsa chamada auto das fadas


Quando acaba o coração
não tem o canto
razão


Quando o canto ao cantar
mata
o coração


é porque vai contra o canto
a razão
do coração

Fiama H. Pais Brandão, (1938-2007)



Vieira Portuense 1798


Para a Fiama, que não gosta de cisnes e que escreveu “Cisne

(O cisne persegue a Fiama no quintal
a Fiama persegue o cisne no poema
sarada a mão direita da poetisa
a poetisa pode escrever sobre o cisne
(de ódio de cisne e de ócio de Fiama
se faz a literatura portuguesa
minha contemporânea)
depois a Fiama persegue o cisne no quintal
durante um quarto de hora
e o cisne persegue a Fiama no poema
pela vida fora)

Ana Hatherly, (1929-2015)












Leda and the Swan

A sudden blow: the great wings beating still
Above the staggering girl, her thighs caressed
By the dark webs, her nape caught in his bill,
He holds her helpless breast upon his breast.

How can those terrified vague fingers push
The feathered glory from her loosening thighs?
And how can body, laid in that white rush,
But feel the strange heart beating where it lies?

A shudder in the loins engenders there
The broken wall, the burning roof and tower
And Agamemnon dead.
                                  Being so caught up,
So mastered by the brute blood of the air,
Did she put on his knowledge with his power
Before the indifferent beak could let her drop?


W B Yeats (1865-1939)









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