(...) Não é difícil
abrir o peito a alguém. Pode exigir algum esforço físico dependendo da maneira
que se escolhe para o fazer. No meu caso, que decidi fazê-lo com uma faca,
precisei de alguma força de mãos e de braços.
Quando espetei a faca
à procura do coração que sempre pensei estar a meio do peito, verifiquei que a
carne ainda é mais mole do que parece. A faca entrou com tamanha facilidade que
me pareceu estar a espetar um pedaço maior de pão. Claro que foi só até apanhar
os ossos. Os ossos são muito difíceis ou talvez a faca não estivesse
suficientemente afiada ou não fosse adequada. Mas abrir o peito a alguém não é
difícil.
Difícil é tirar o
coração a alguém.(...)Ainda que se consiga abrir o buraco no peito sem
problemas o coração está escondido (...) o sangue também não ajuda (...) foi
ela que me deu o coração, mas afinal não é assim tão fácil tirá-lo, ela devia
saber que era difícil arrancar-lhe o coração(...)
Dulce Maria Cardoso, Campo de Sangue
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