O coração está podre
e quando o sangue
nele
entra, no campo ermo
que ali deixou, ao
recuar,
o pensamento, fica
branco
até que em redor- a
tempestade
que as palavras até
ali
tinham trazido- tudo,
sim, fique
escurecido.
É o sentimento,
venoso?
Flashes de vermelho e
luz
no fundo sensível da
placa
de veludo- crómio
cerúleo,
vulcões explodem
nuvens
merino, as cores,
abocanhando
(abrindo e fechando
as bocas)-
vistas daqui, afinal,
crateras
de uma superfície
lunar
que nos lembramos de,
em Poe, ter
percorrido.
O universo morre ( ou
renasce) em nós,
novelo
de um membro amputado
onde alguém, uma
entidade,
aguarda que entrem em
cena os personagens ( concreções
livres de átomos) que
por
“desoeuvrement” ou “disperata
vitalitá”, ali convergiram.
Apagado o cigarro, a
mulher
vira-se de costas
para a linguagem
enquanto o veado, do
outro lado
da mesa, grita como
se o ar,
nos pulmões, o
tivesse consumido. (...)
Fernando Guerreiro,
(1950)
( excerto de Cinema
Eldorado )
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