DO EXÍLIO
Nada era perfeito, havia muito tempo,
por isso jogávamos
batalha
naval para nos
entretermos:
Quem perdia não
interessava,
éramos pequenos:
Dependia da posição
dos barcos,
e como em tudo havia dois lados
nenhum culpado, só um
desejo:
Afundar e ganhar o
jogo.
Hoje, crescemos no mar mais
azul de todos:
voltam-se
embarcações mais
humanas
que as nossas, se
perdemos:
Lampedusa é refugio de mortos
em fundo aquático,
sem coro
que os comente ou
peixe que
os coma:
E enquanto isto, eles deixam tudo
sem tempo de olhar
para trás,
ou meios de olhar para a frente,
Tentando o barco do exílio
e saindo-lhes a barca
de caronte,
por engano e
desespero.
Ricardo Marques, 1983
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