terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Lampedusa & afins

DO EXÍLIO

Nada era perfeito, havia muito tempo,
 por isso jogávamos batalha
 naval para nos entretermos:

 Quem perdia não interessava,
 éramos pequenos:

 Dependia da posição dos barcos,
e como em tudo havia dois lados
 nenhum culpado, só um desejo:
 Afundar e ganhar o jogo.

Hoje, crescemos no mar mais
 azul de todos: voltam-se
 embarcações mais humanas
 que as nossas, se perdemos:

Lampedusa é refugio de mortos
 em fundo aquático, sem coro
 que os comente ou peixe que
 os coma:

E enquanto isto, eles deixam tudo
 sem tempo de olhar para trás,
ou meios de olhar para a frente,

Tentando o barco do exílio
 e saindo-lhes a barca de caronte,
 por engano e desespero.


Ricardo Marques,  1983

Sem comentários: