( Quatro
fragmentos de “ A Humidade” )
1.
Se eu tivesse necessidade de ti, ilha, chamar-te-ia Terceira
Pico ou Corvo. A diferença abissal dos nomes corresponde
à diferença do fundo e da superfície. Poderia porventura
comer laranjas sentado num dorso de baleia? Reduzi
a imaginação aos contornos exactos da ilha vista de longe.
Aqui pus-me a pensar na insinceridade que é
falar das coisas que pertencem à profundidade do oceano.
Porque,
haverá alguma razão na coabitação dos corvos e gaivotas,
mesmo provisória?
Não, digo. Os elementos estão segregados do seu campo; “ilha”
funciona como imagem irredutível. Eis porque me abandonei
ao naufrágio. Eis porque os nomes não constituem tábuas
de salvação.
E finalmente eis o que de útil tem o poema.
Pico ou Corvo. A diferença abissal dos nomes corresponde
à diferença do fundo e da superfície. Poderia porventura
comer laranjas sentado num dorso de baleia? Reduzi
a imaginação aos contornos exactos da ilha vista de longe.
Aqui pus-me a pensar na insinceridade que é
falar das coisas que pertencem à profundidade do oceano.
Porque,
haverá alguma razão na coabitação dos corvos e gaivotas,
mesmo provisória?
Não, digo. Os elementos estão segregados do seu campo; “ilha”
funciona como imagem irredutível. Eis porque me abandonei
ao naufrágio. Eis porque os nomes não constituem tábuas
de salvação.
E finalmente eis o que de útil tem o poema.
J. H. Santos Barros (1946-1983)
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