domingo, 13 de março de 2022

Monólogo sobre a miséria

 

Oh, numa noite de chuva e vento

numa noite de neve e chuva

corta- me o frio

o desespero gela-me

A boca encho de aguardente e sal

que sorvo de um cantil

enquanto a barba hirsuta

acaricio e enxugo.

Mulheres levam

 crianças e velhos

         Choram

e pedem comida

- mas são perseguidos

Assim nada se ajusta

e nada muda

Oh! O céu e a terra são vastos,

 mas para nós

são pequenos e duros

O sol e a lua iluminam o mundo,

mas connosco

poupam a luz.

É sempre o mesmo?

 Só eu sinto assim?

 

Cru e sem vergonha

 o mundo abandona- nos

Dele não podemos voar

por não sermos aves.

 

Yamanoue no Okura, Japão, (660?-733)

    -excertos adaptados por mim-




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