Não se vê o seu rosto:
ele olha para baixo,
Uma espingarda sobre os joelhos cerrados.
Não sente frio nem calor,
Não distingue a neve da chuva.
Não se vê o seu rosto: mas os vivos
Podem imaginar o que permanece escondido
E a sua cabeça inclinada
É a garantia de que ninguém o esculpiu.
Afeganistão, a segunda mundial:
Pena que não se comemorem a de Tróia,
A dos trinta anos, a do norte, a dos cem anos,
Não há um monumento comum a todas.
Vejo-me como um rosto,
Nada mais que um rosto de olhos fechados,
Um rosto: uma ilha no oceano,
Uma ilha no oceano do vazio,
Um rosto onde se nota o mais pequeno dos traços,
Orientado para o alto, como um hieróglifo,
Um hieróglifo gravado na pedra,
E ninguém para o ler.
Andréi Nitchenko, Rússia (1983)
Sem comentários:
Enviar um comentário