quinta-feira, 24 de março de 2022

«Mulher ao mar»

 

MAYDAY lanço, porque a guerra dura

e está vazio o vaso em que parti

e cede ao fundo onde a vaga fura,

suga a fissura, uma falta - não

um tarro de cortiça que vogasse;

específico: é terracota e fractura,

e eu sou esparsa, e eu liquidez maciça.

Tarde, sei, será, se vier socorro:

se transluz pouco ao escuro este sinal,

e a água não prevê qualquer escritura

se jazo aqui: rasura apenas, branda

a costura, fará a onda em ponto

lento um manto sobre o afogamento.

 

Margarida Vale de Gato, 1973



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