quinta-feira, 28 de dezembro de 2017
quarta-feira, 27 de dezembro de 2017
Banksy, Avalanches and Me
terça-feira, 26 de dezembro de 2017
Bruno e as folhas
Varridas e amontoadas
as folhas
abandonadas
aguardam a vinda
do vento
a um qualquer momento...
Eu e Taigi
domingo, 24 de dezembro de 2017
sábado, 23 de dezembro de 2017
O mundo sem varandas
Dito e feito:
o ofício de-ver
Compadeço-me, contra
a minha vontade, dessa visão.
Comovo-me.
Olho outra vez todas
as fachadas ondulantes, toda a arquitectura se
desfaz num bocejo.
Perco momentaneamente
o ar.
Venho à varanda.
Respiro.
Volto as costas ao
interior.
Posso agora, graças
ao maravilhoso invento da perspectiva, ver todas
as varandas desenhadas
sobre as linhas de fuga.
Quase todas estão
vazias.
Que pena!
Devem estar todos
muito ocupados a habitar o interior.
Marta Bernardes, 1983
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
Verde e verdade em sua relatividade
"A verdade só
se envergonha de estar oculta."
"Calar a
verdade é enterrar ouro."
"A verdade é
como o azeite, mais cedo ou mais tarde vem à tona."
"Nem todas as
verdades são para todos os ouvidos."
“A verdade pode ser combatida, mas não
vencida."
De la mês clara paraula
cal fer-ne vida,
do fogo que vence
e arruma
a mentira.
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Correios,"curtas", gato e outras Coisas de espantar
Esta noite, no canal 2 da RTP, às 23 horas, sessão de curtas metragens a não perder, na véspera da noite mais longa e espantosa do ano.
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
Cegueira
Ceguera
Una mujer arropa el sol con una mano.
En la memoria,
un abismo de reflejos
nombra el camino.
El tacto no es más que el temblor
con el que entramos en la noche.
Laura Castillo, Colômbia, 1990
domingo, 17 de dezembro de 2017
Noite branca
Arte poética
Las hojas caen del borde de los tejados
y entran de golpe a casa de los poetas.
Sin preguntar, se instalan en las paredes,
cuestionan el silencio,
respiran sobre la pesadez de las manos,
buscan el instante en la palabra.
De golpe, el vuelo de un pájaro revienta
en el papel.
La noche entonces despierta.
Laura Castillo, Colômbia, 1990
sábado, 16 de dezembro de 2017
Pequenos clarões
com uma lanterna na algibeira
passeias a noite inteira:
entre células e embriões
tarântulas e tubarões
desces do mar a avenida
à procura de verdade;
mais útil na cidade porém
o vislumbre do pirilampo
consumindo-se no campo
pois na pele da mão não já flor
ou na auto-estrada da vida
o cinza é por certo a cor
e sempre acendes a ferida.
quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
terça-feira, 12 de dezembro de 2017
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
"Cerco contínuo"
Cerco contínuo
Alguém me abriu seus braços e andei entre seu cerco.
E cresceram-me asas
dentro de um labirinto
que me cercou também.
E levantei meu voo.
Já sem alento, agora,
cerca-me o mar de Icária.
Maria Vitória Atencia,
Espanha, 1931
( a tradução é de José Bento)
domingo, 10 de dezembro de 2017
Obscuros actos
VI
Los años aquí abajo
pasan de largo
entre los muros
carcomidos
y los árboles
desnudos
y nosotros aún somos
los mismos
Los sueños de ayer
todavía nos embriagan
Cada día azuzan
nuestros ojos el mismo fuego
y he aquí otra vez
asaltándonos la abyecta risa
Pues nos sumergimos
a gusto en las tinieblas
y el mundo quedó
lejos de nosotros
Pues no atesoramos
más que oscuros actos
abismos que abren
otros enormes abismos
y en cuya vieja
espiral despedazamos
los ya despedazados
andrajos del amor
aquellos cuerpos ya
perdidos para siempre
Elí Urbina, Perú, 1989
sábado, 9 de dezembro de 2017
Vales
DAVANT DEL RAM
Davant del ram,
damunt els extraordinaris
materials aflorants,
davant la terra
enflorada de valls i les valls
d’esbadellar-se la terra,
per entre els marcits abismes
i els costers aponcellats,
em pregunto, a cada vall,
quines muntanyes l’han desclosa.
Perejaume
sexta-feira, 8 de dezembro de 2017
quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
Na TV, o sangue não transborda
Mejor nos quedamos a ver la tele (buenas excusas)
¿Qué otra cosa puedo decirte?
La sangre se agolpa en las calles
Se estrella en el Palacio de Gobierno
Y en el rostro de un jefe de oficina
Se agolpa en el cantar de las aves
Y también en los comercios del centro
La sangre corre por todos lados
¡No se está a salvo ni en el baño, tigre!
Ni para comprarte bombones se puede
Para ir a la florería hay que traer escolta
¿Y te atreves a decir que quieres ir al museo?
No estarás tú para saberlo, pero la Casa Azul
Ya no es más azul, ya nada es más azul,
ni el cielo
Ahora todo se tornó violentamente rojo
Como la sangre que se agolpa en las calles
Como las sucias manos de nuestro regente
Rojo, como Rojo Amanecer con María Rojo
Y para ver casas rojas, mi amor,
no hace falta ir tan lejos.
Leonardo Ismael
Ruiz Díaz, México (1993)
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Sem amarras
e
na imobilidade das
horas
por longo tempo
escutei
o canto
singrando em
rochosa reverberação
de um mar hoje
morto e onde
então mergulhei
segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
"Chamados a comparecer"
CRIDATS A
COMPARÈIXER
De no dir-les
les paraules se m’han dit.
Quan anostrem un lloc
és ell que se’ns posa a la boca.
És ella que ens sorolla,
la paraula a qui ens donem,
dòcils al sentit
que es deixa prendre,
com una boca que li fóssim.
Que és sempre ella,
la paraula,
que dubta de venir-nos
de deixar-se, o no, venir.
Perejaume, Espanha, 1957
domingo, 3 de dezembro de 2017
Precariedade existencial
Soneto
Nunca procurei
enganar a vida
e não vou dizer
que ela me enganou
Não: a vida tem sido
honesta comigo
O problema é
dar-lhe carta branca
Pois a minha precariedade
é – acima de
tudo - existencial
Contra ela não há
contrato ou vínculo
que me valha
Manuel A. Domingos,
1977
sábado, 2 de dezembro de 2017
Canções de inocência
Luísa e Salvador Sobral |
Canção de inocência
Não acreditávamos nos velhos provérbios
que vaticinam que a
ventura é breve
e o amor um enganoso
fruto de coração incerto.
Não acreditávamos nos
velhos provérbios
e fizemos bem, quem
poderá negar que durante um tempo
fomos felizes,
semelhantes a deuses,
que nunca então o
medo nos tocou
nem era possível
incerteza nos nossos sonhos.
Não acreditávamos nos velhos provérbios...
Mas isto era ainda no
tempo em que
desconhecíamos as
sombras e os ardis,
os tribunais funestos
que o amor ampara
e os tributos amargos
que depois exige o desamor.
Silvia Ugidos, Espanha, 1972
( tradução de Joaquim M.
Magalhães)
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
O amor deixa tudo mais limpo?
Blues
a casa é um nojo sem ti o lava-loiça o quarto
de banho os lençóis
sujos a comida a apodrecer
no frigorífico tu
melhor que ninguém sabes que difícil
é conviver com um
tipo como eu incapaz de enfrentar
assuntos tais como
lavar a roupa o cesto
das compras a escolha
de detergente ou a solidão
a minha vida é um nojo sem ti.
Pablo García Casado,
Espanha, 1972
(tradução de Joaquim M. Magalhães)
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
quarta-feira, 29 de novembro de 2017
"His master's voice"
A voz do dono
Although
I’m not Nipper
I’ve followed his voice
for too long
Too much long the tunes of
this voice
made my body tremble
lead me to the best and
the worst in me
but I always knew
I was not this dog:
I never barked I never
came back to lick or shake
hands even
even when my body and soul
were lost in
his voice’s
vibrations.
domingo, 26 de novembro de 2017
O amor é um género literário?
O amor é um género literário
Pensei em escrever-te como se não existisse
ainda o feminismo.
Como se o nosso tempo
não fosse o fim do
século, nem ninguém conhecesse
a igualdade dos
sexos, nem causasse estranheza
ouvir que te dissesse
que o amor que eu sinto
por ti nunca poderias
senti-lo tu por ninguém.
Talvez o amor seja
apenas literatura
que muda com o tempo.
Eu suponho que nós
não amamos como
Shakespeare, nem Shakespeare como Dante,
nem Dante como Safo,
nem Safo como ninguém.
Carlos Martínez
Aguirre, Espanha, 1974
( tradução de Joaquim M. Magalhães)
sábado, 25 de novembro de 2017
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
Procuram-se mulher e neve de ontem- F Villon
Ballade des dames
du temps jadis
Dites-moi où,
dans quel pays,
Est Flora la belle Romaine,
Archipiades, et Thaïs,
Qui fut sa cousine germaine,
Echo, parlant quant bruit on mène
Dessus rivière ou sur étang,
Qui beauté eut surhumaine ?
Mais où sont les neiges d’antan ?
Où est la très
sage Héloïse,
Pour qui fut châtré puis fait moine
Pierre Esbaillart à Saint-Denis ?
Pour son amour eut cette peine.
Semblablement, où est la reine
Qui commanda que Buridan
Fût jeté dans un sac en Seine ?
Mais où sont les neiges d’antan ?
La reine Blanche
comme un lis
Qui chantait à voix de sirène,
Berthe au grand pied, Béatrice, Alice,
Haramburgis qui tint le Maine,
Et Jeanne, la bonne Lorraine
Qu’Anglais brûlèrent à Rouen ;
Où sont-ils, où, Vierge Souveraine ?
Mais où sont les neiges d’antan ?
Prince, ne
demandez cette semaine
ni cette année, où elles sont ;
Je vous ramène à ce refrain :
Mais où sont les neiges d’antan
François Villon, França (1431- 1463)
Nota: Archipiades é o único homem, entre as mulheres mencionadas.
quinta-feira, 23 de novembro de 2017
Maledicência
Balada das línguas maldosas
Em rosalgar, em pedra arsenical,
em enxofre, em salitre e em cal viva,
em chumbo que a ferver rói mais brutal,
em sebo e pez junto a lixívia activa
de mijo de judia cagativa,
lavaduras de pernas de gafado,
raspaduras de pés, botim furado,
sangue de cobra e drogas venenosas,
fel de texugo, lobo e zorra dado,
sejam fritas as línguas mais maldosas.
Em miolos de gato a pescar mal,
preto, velho e sem dentes na gengiva,
de cão velho que valha por igual,
raivoso pela baba e a saliva,
no espumar da mula ofegativa
que rasoiras bem fino têm talhado,
n’água onde os ratos hão afocinhado,
rãs e sapos e bichas perigosas,
lagarto e serpe e aves de tal costado,
sejam fritas as línguas mais maldosas.
Em sublimado ao toque só fatal,
em sangue seco em malga barbeiral
à lua cheia, vista que é nociva,
que ora é negro, ora verde mais que oliva,
em tumor, pús, e tanque emporcalhado
onde dessanguam amas sujo atado,
em lavagens de fêmeas amorosas
(quem não sabe, em bordéis não é versado)
sejam fritas as línguas mais maldosas.
Senhor, passai depois cada bocado,
se tamiz, saco ou filtro haveis falhado
pelo fundo de bragas pegajosas;
mas antes, dos suínos no cagado
sejam fritas as línguas mais maldosas.
François Villon, França (1431- desaparecido em 1463)
( tradução de Vasco Graça Moura)
quarta-feira, 22 de novembro de 2017
Sobre anjos
(...) Ao
dizer anjo não se é generoso
nem retórico, sem mais,
entende-se, apenas, que o mundo é imperfeito
mas que há rastos, sinais, rostos
de outra realidade que o saturnal invoca.
Ao dizer anjo
pede-se morte, proclamando vida.
Ao dizer anjo-
é certo – designamos o inumano,
o resplendor celeste de singulares humanos
que existem, e não existem, eleitos.
Luis António de Vilhena, Espanha (1951)
( a
tradução é de José Bento)
terça-feira, 21 de novembro de 2017
segunda-feira, 20 de novembro de 2017
domingo, 19 de novembro de 2017
Flutuando para sempre
The Falling Man
Doscientas personas
saltaron de las altas torres
De todas ellas
sólo nos interesará
un hombre
Su vuelo sostenido
hace olvidar
que el tiempo existe
que el suelo existe
Qué reconfortante pensar en un muerto
que flota para siempre.
Estefanía Angueyra, Colombia (1992)
sexta-feira, 17 de novembro de 2017
A humidade: 1º fragmento
( Quatro
fragmentos de “ A Humidade” )
1.
Se eu tivesse necessidade de ti, ilha, chamar-te-ia Terceira
Pico ou Corvo. A diferença abissal dos nomes corresponde
à diferença do fundo e da superfície. Poderia porventura
comer laranjas sentado num dorso de baleia? Reduzi
a imaginação aos contornos exactos da ilha vista de longe.
Aqui pus-me a pensar na insinceridade que é
falar das coisas que pertencem à profundidade do oceano.
Porque,
haverá alguma razão na coabitação dos corvos e gaivotas,
mesmo provisória?
Não, digo. Os elementos estão segregados do seu campo; “ilha”
funciona como imagem irredutível. Eis porque me abandonei
ao naufrágio. Eis porque os nomes não constituem tábuas
de salvação.
E finalmente eis o que de útil tem o poema.
Pico ou Corvo. A diferença abissal dos nomes corresponde
à diferença do fundo e da superfície. Poderia porventura
comer laranjas sentado num dorso de baleia? Reduzi
a imaginação aos contornos exactos da ilha vista de longe.
Aqui pus-me a pensar na insinceridade que é
falar das coisas que pertencem à profundidade do oceano.
Porque,
haverá alguma razão na coabitação dos corvos e gaivotas,
mesmo provisória?
Não, digo. Os elementos estão segregados do seu campo; “ilha”
funciona como imagem irredutível. Eis porque me abandonei
ao naufrágio. Eis porque os nomes não constituem tábuas
de salvação.
E finalmente eis o que de útil tem o poema.
J. H. Santos Barros (1946-1983)
quinta-feira, 16 de novembro de 2017
Na parede
A parede
E, realmente, o quê?
Que concluíste?
A vida é densidade.
E quanto mais espuma,
tu lá dentro, mais
osso, mais pequeno.
Agachado estás,
quer-se dizer.
Mas não saltarás. Não é isso. Agachado
quer dizer tranquilo,
esperando os óleos,
as vazias palavras da
morte.
E não é serenidade
nem altura.
Tu nada conquistaste,
- não queiras
pretendê-lo - nem fizeste,
rio tranquilo,
obscuro, prateado,
pelos desfiladeiros,
as gargantas,
os remansos.
Não. Já divagámos.
És tua densidade,
esta consciência
da tua sombra, a
sombra de tuas mãos
na parede. Agora.
César Simon, Espanha
( 1932-1997)
( a tradução é de José Bento)
quarta-feira, 15 de novembro de 2017
Em busca do tempo apagado
Para todos aqueles que,
como forma de protesto ou de reivindicação,
efectivam uma interrupção voluntária e colectiva
de actividades e funções
- para que o seu trabalho seja valorizado.
Dicionário Priberam e eu
como forma de protesto ou de reivindicação,
efectivam uma interrupção voluntária e colectiva
de actividades e funções
- para que o seu trabalho seja valorizado.
Dicionário Priberam e eu
Límpidas Palavras
Eram límpidas palavras:
eram insectos
perfeitos
que não passavam por
larvas;
eram águas em corrente
fruídas logo à
nascença
no entremeio das
fragas;
eram jovens diligentes
que sabiam como os
lábios
ardiam antes da fala
João Rui de Sousa,
1928
terça-feira, 14 de novembro de 2017
Da faca na pêra
Ao
descascar uma pêra –
ternas gotas
deslizam
pelo gume da faca
Shiki, Japão
(1867-1902)
(traduzido,
do francês, por mim)
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
Kuekue: lentidão
kuekue
nda’a kue yutú kusi inia tsi tachi
tachi ñaa xitaà ini yíví
nda’a ita ñaá kooyo
rii tsiniyu ñaá ndi’í
ndusu i’ná ku’ú yu’ú
ñaá yaava nuú yosò
ñaá kutsi tunìì
takua maa sana iniyu
nchií kuú
lentitud
hojas que se alegran con el viento
hálito que arrastra mi existencia
pétalos que se deshojan
al final un espejismo
conjuro mágico de mi voz
se esparce por los valles
huellas impregnadas
para no olvidar mi ser profundo
Celerina Patricia Sánchez Santiago, México, 1967.
pertence à cultura Ñuu savi.
domingo, 12 de novembro de 2017
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