domingo, 10 de maio de 2020

Às aranhas



Às aranhas deste quarto

Vós que esperastes aqui antes de mim
 em silêncio mães do silêncio
 sempre soube que estáveis presentes
 pudesse eu ver-vos ou não
 nas nuvens cinzentas nos cantos altos
 fiandeiras das profundezas das sombras

que se repetem sem memória
 erguendo-se por baixo do momento
 quando este respira treme e se foi
 portadoras de uma mensagem não conhecida
 herdeiras de uma linhagem invisível

chegou o momento de agradecer-vos
 por nunca me terem aparecido
ao longo destes anos guardiãs da não palavra
 assídua nesta sala muda enquanto
 o pássaro cantou a chuva murmurou
 e a voz ecoou da estrada

pacientes guardiãs que desvendaram
 em cada som a hora da mosca

           W.S. Merwin
       (a tradução foi feita por mim)


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