segunda-feira, 25 de maio de 2020

Esquecer alguns sonhos



            Eles esqueceram alguns sonhos

 Os pássaros mortos caíram, mas ninguém os tinha visto voar,
 ou imaginava donde vieram. Negros, os olhos estavam fechados,
 e ninguém sabia que pássaros eram. Mas todos
 os que os agarraram fitaram o novo céu distante e afunilado.
 Também, escuras gotas caíram. De noite sobre os beirais,
 ou reunidos ao longo dos tectos sobre as camas,
 toda a noite pendiam, misteriosas formas de gotas, sobre as cabeças,
 e caíam agora dos dedos descuidados, rápidos como o orvalho das folhas.
 Onde se tinha visto bagas silvestres tão negras como estas,
 assim brilhando logo de manhã cedo? Armadilhas cruéis
 no ramo mais alto ou debaixo das folhas? Tinham pensado veneno
 e escapado ou- lembrem-se- comido o que havia nessas árvores carregadas?
 Que flores se contraem em sementes como estas, como a columbina?
 Por volta das oito ou nove os sonhos são todos inescrutáveis.

        Elisabeth Bishop, EUA (1911-1979)
        (tradução de M. de Lourdes Guimarães)






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