«Em boa verdade vos digo: que continuamos sós mas menos
desamparadas»
(Barreno / Horta / Costa,
in Novas Cartas Portuguesas-carta penúltima)
Senhora
– Senhora, o que te
faz tão franzida
Tão refeita
Tão suspeita?
Quem escolhe a mansa
vida
Verá bem o que
rejeita.
– Vai e traz-me um
cabelo
Dum dragão enamorado
Pois se me falas de
amor
Quero vê-lo feito e
provado.
À volta dar-te-ei
guarida
Sentar-te-ei a meu
lado.
– Senhora, o que te traz tão sujeita
Tão faltosa
Suspirosa?
Quem fia, borda e
ajeita
Murcha cedo como a
rosa
Não tem ciência nem
prosa
Não sabe o nome que
aceita.
– Vai roubar o
setestrelo
A um deus mau e
zangado
Pois se me dizes
saber
Quero prová-lo, e
habitado.
À volta dar-te-ei
suspeita
De que não estás do
meu lado.
– Senhora, o que te
jaz tão famosa
Tão ausente
Tão pungente?
– Quem escolhe, parte
e rejeita.
Quem parte, vai e não
colhe.
Quem vai, faz e não
ama.
Quem faz, fala e não
sente.
São teus olhos os
sujeitos
São de granito os
meus peitos.
Quem fia, borda e
ajeita,
Quem espera, fica e
não escolhe,
Quem cala, quieta na
cama,
Sou eu, deitada a sentir
Tua roda de fugir
Tua cabeça em meu
ventre.
As 3 Marias, em 11/3/1971
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