sábado, 26 de abril de 2014

Depois do sol: chuviscos



Afinal houve uma chuva de cravos no Terreiro do Paço, apesar de, cá pelo bairro, não haver nuvens nem tão pouco dinheiro para comprar os ditos. Aqui, só os topei nas paredes- mal este mês despontou...
 Na freguesia, agora alargada, também encontrei este espaço onde me sentei, longe da multidão, a usufruir o sol de um dia que, há 40 anos, foi considerado por muitos «inaugural» e por mim sentido como único.

Por acaso- ou talvez não, já sei que nada ou pouco sei- cruzei-me com alguém que amou Salgueiro Maia. Fomos ao Carmo-depois da enchente dos pequenos rios que lá desaguaram. Aprendi que o ar sério e preocupado que as fotografias dele retiveram fazia parte do seu modo de estar no mundo de então.
 Se cá estivesse ainda e, se tivesse visto o que eu registei ontem sobre os cravos, pegaria novamente no megafone ou num qualquer outro invento tecnologicamente avançado, ou então teria de recorrer a uma dose muito muito elevada de dopamina para sobreviver.

Foi pensando nisso que regressei a casa. Liguei-me ao mundo: em breve, qual maná, as ambicionadas flores, agora inodoras, cairiam do azul do céu.; mais tarde, haveriam de noticiar um ataque de pirataria informática.
Sem megafone, sem dopamina, já o sol se retirara, fui ouvir-cá no bairro-«As portas que Abril abriu». Éramos talvez uma dúzia e só eu tinha vivido esse momento- único. Depois dancei. Dancei enquanto pude. Aí já éramos muitos...e o nível de felicidade bruta subiu, com o movimento dos corpos seguindo a música.

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