Na freguesia, agora alargada, também encontrei este espaço onde me sentei, longe da multidão, a usufruir o sol de um dia que, há 40 anos, foi considerado por muitos «inaugural» e por mim sentido como único.
Por acaso- ou talvez não, já sei que nada ou pouco sei- cruzei-me com alguém que amou Salgueiro Maia. Fomos ao Carmo-depois da enchente dos pequenos rios que lá desaguaram. Aprendi que o ar sério e preocupado que as fotografias dele retiveram fazia parte do seu modo de estar no mundo de então.
Se cá estivesse ainda e, se tivesse visto o que eu registei ontem sobre os cravos, pegaria novamente no megafone ou num qualquer outro invento tecnologicamente avançado, ou então teria de recorrer a uma dose muito muito elevada de dopamina para sobreviver.
Foi pensando nisso que regressei a casa. Liguei-me ao mundo: em breve, qual maná, as ambicionadas flores, agora inodoras, cairiam do azul do céu.; mais tarde, haveriam de noticiar um ataque de pirataria informática.
Sem megafone, sem dopamina, já o sol se retirara, fui ouvir-cá no bairro-«As portas que Abril abriu». Éramos talvez uma dúzia e só eu tinha vivido esse momento- único. Depois dancei. Dancei enquanto pude. Aí já éramos muitos...e o nível de felicidade bruta subiu, com o movimento dos corpos seguindo a música.
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