segunda-feira, 21 de abril de 2014

Com o deserto nas mãos



Bárbaros

Vinham de longe, arrastados pelos ventos, e escondiam
nas mãos um punhado de areia fina para não esquecerem
o cheiro dos desertos. Subiram à montanha e,
com um ramo quebrado, puseram-se a riscar o contorno
do lago e os caminhos tortuosos das primeiras margens.
A água fascinava-os, como aos cavalos que traziam
alados e sem crinas para chegarem sempre mais cedo.

Nessa noite acamparam no vale. Assaram um veado. Beberam
às mulheres que haveriam de ter. E adormeceram
mais longe do céu.

Sonharam com o fogo para não terem de cortar o trigo.

De manhã, a planície estava ainda mais plana.



Maria do Rosário Pedreira, A Casa e o Cheiro dos Livro ,Gótica, Lx, 2007


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