Poema visto no ventilador de um motel
Está um calor infernal.
Ligo o ventilador
e as pás põem-se a
girar lentamente.
Um vento suave
desloca-se imediatamente
e as cortinas desatam
a bailar.
O centro do ventilador
é um espelho convexo,
um olho de peixe,
um capacete dourado.
É lá que vibram os reflexos
com o motor a ronronar,
mas não mudam de lugar.
Aumento a velocidade e as pás giram
até se tornarem invisíveis quase
-uma esbranquiçada gaze-
mas os reflexos no centro
são os mesmos.
Assim acontecerá com tudo-digo de mim para mim-
as superfícies movem-se a grande velocidade
mas as formas que
elas refletem não.
Passam os indivíduos de uma espécie
mas a espécie não fenece.
Passam os homens de um povo,
mas o povo continua.
Todos os poetas passam
a poesia, porém, permanece.
Os nossos pensamentos passam,
mas algo, ou alguém,
observa.
Continua a observar.
Alberto Blanco (n. México, 1951)- a tradução é da minha lavra, embora existam outras- que não consultei.
Nota: para A.B., o sentido da poesia “tiene que ver
con la capacidad de mantener un estado de observación tan alerta y tan atento
que permita captar todas las variaciones de lo que sucede a la velocidad
vertiginosa de lo real”.
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