sábado, 13 de setembro de 2014

Modos de ver

Utopia

Ilha onde tudo se torna claro.

Chão sólido debaixo dos pés.

As únicas estradas são as que oferecem acesso.

Arbustos curvando-se sob o peso das provas.

A Árvore das Suposições Válidas cresce aqui
com ramos desentrelaçados desde tempos imemoriais.

A Árvore do Entendimento, deslumbrantemente recta e simples,
brota na primavera chamada Agora Eu Entendi.

Quanto mais espessos os bosques, mais vasta a vista:
o Vale dos Obviamente.

Se algumas dúvidas surgem, logo o vento as dissipa.

Ecos agitam-se sem serem chamados
e pressurosamente explicam todos os segredos dos mundos.

À direita, uma caverna, onde o Significado repousa.

À esquerda, o Lago das Convicções Profundas.
A verdade solta-se do profundo e move-se para superfície.

Inabaláveis torres da Confiança sobre o vale
cujos pináculos oferecem uma excelente vista da Essência das Coisas.

Apesar dos seus encantos, a ilha está desabitada,
e as desvanecidas pegadas dispersas nas suas praias
apontam sem excepção para o mar.

Como se tudo o que pudesses fazer aqui fosse partir
e mergulhar, sem retorno, na profundeza das águas.

Na vida insondável.

Wislawa Szymborska(Polónia1923-2012), From a large Number,1976


traduzido por mim do inglês (S. Baranczak & C. Cavanagh), tendo também consultado a tradução de Josette Monzani e A. Cesar Cavalcanti).

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