quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Arte factos





Uma Arte

A arte de perder não é difícil de se dominar;

tantas coisas parecem cheias da intenção

de se perderem que a sua perda não é uma calamidade.



Perder qualquer coisa todos os dias. Aceitar a agitação

de chaves perdidas, a hora mal passada.

A arte de perder não é difícil de se dominar.



Então procura perder mais, perder mais depresssa:

lugares e nomes e para onde tencionava

viajar. Nenhuma destas coisas trará uma calamidade.



Perdi o relógio da minha mãe. E olha! a última, ou

a penúltima, de três casas amadas desapareceu.

A arte de perder não é difícil de se dominar.



Perdi duas cidades encantadoras: E, mais vastos ainda,

reinos que possuía, dois rios, um continente.

Sinto a falta deles, mas não foi uma calamidade.



— Mesmo o perder-te (a voz trocista, um gesto

que amo) não foi diferente disso. É evidente

que a arte de perder não é muito difícil de se dominar

mesmo que nos pareça (toma nota!) uma calamidade.



Elizabeth Bishop, tradução de Maria de Lourdes Guimarães

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