quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Gatos e «Um Gato no Inferno»

...«Aborrecem-se, divertem-se
   alheiam-se pouco ou muito
   Preservam-se»

...«Para não pensar
…excessivamente
   passar a mão devagar
…no seu dorso morno»

…«Não haverá muitos gatos
   nos desvãos do inferno
   Mas um há que eu tinha
   e que espera por mim lá»

…«Assim, dentro de um poema
   de amor ao gato, amodorrado
   no inferno»
                          Rui Caeiro, Um Gato no Inferno, Lisboa,2013 (excertos)


Os gatos não pertencem à domus: reconhecem os donos, mas recolhem nas unhas o enigma que são; nos sofás e almofadas que estes lhes destinam, em ciclos sonham com a era dos félidas: está-lhes no pelo, no olhar fendido e oblíquo, nos bocejos que sem pejo exibem, no esgueirar- se ou abeirar-se, ondulando o dorso quando isso lhes apraz também miam às vezes -baixinho, miam languidamente em maio- quebrando o voto de silêncio:um inferno sazonal.
 Impossibilitados de os entenderem, os humanos ora os idolatram ora os matam.
 Os poetas devolvem-nos à vida -no calor dos seus versos de embalar.

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