...«Aborrecem-se, divertem-se
alheiam-se pouco ou muito
Preservam-se»
...«Para não pensar
…excessivamente
passar a mão devagar
…no seu dorso morno»
…«Não haverá muitos gatos
nos desvãos do inferno
Mas um há que eu tinha
e que espera por mim lá»
…«Assim, dentro de um poema
de amor ao gato, amodorrado
no inferno»
Rui Caeiro, Um Gato no Inferno, Lisboa,2013 (excertos)
Os gatos não pertencem à domus: reconhecem os donos, mas recolhem nas unhas o enigma que são; nos sofás e almofadas que estes lhes destinam, em ciclos sonham com a era dos félidas: está-lhes no pelo, no olhar fendido e oblíquo, nos bocejos que sem pejo exibem, no esgueirar- se ou abeirar-se, ondulando o dorso quando isso lhes apraz também miam às vezes -baixinho, miam languidamente em maio- quebrando o voto de silêncio:um inferno sazonal.
Impossibilitados de os entenderem, os humanos ora os idolatram ora os matam.
Os poetas devolvem-nos à vida -no calor dos seus versos de embalar.
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