sexta-feira, 18 de outubro de 2013


«...As gralhas gritam. Naturalmente voam/em voo vibrante para a cidade. Quem/ não tem pátria olha/ para o céu.»
Ulla Hahn, Asede entre os limites...


Vilancete

Entre mim mesmo e mim
não sei que se alevantou,
que tão meu imigo sou.

Uns tempos, com grande engano,
vivi eu mesmo comigo,
agora no mor perigo
se me descobre o mor dano.
Caro custa um desengano
e pois me este não matou
quão caro que me custou.

De mim me sou feito alheio,
entre o cuidado e cuidado
está um mal derramado
que por mal grande me veio.
Nova dor, novo receio
foi este que me tomou:
assim me tem, assim estou.



RIBEIRO, Bernardim. "Entre mim mesmo e mim". In: SILVEIRA, Francisco Maciel (org.). Poesia clássica São Paulo: Global, 1988.

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