domingo, 12 de janeiro de 2014

Cabo Verde, anjos e «Visões»-última apresentação



Anjos 2º


DER GLUCKLOSE ENGEL

Hinter ihm schwemmt Vergangenheit an, schüttet Geröll auf Flügel und Schultern, mit Lärm wie von begrabnen Trommeln, während vor ihm sich die Zukunft staut, seine Augen eindrückt, die Augäpfel sprengt wie ein Stern, das Wort umdreht zum tönenden Knebel, ihn würgt mit seinem Atem. Eine Zeitlang sieht man noch sein Flügelschlagen, hört in das Rauschen die Steinschläge vor über hinter ihm niedergehn, lauter je heftiger die vergebliche Bewegung, vereinzelt, wenn sie langsam wird. Dann schließt sich über ihm der Augenblick: auf dem schnell verschütteten Stehplatz kommt der glücklose Engel zur Ruhe, wartend auf Geschichte in der Versteinerung von Flug Blick Atem. Bis das erneute Rauschen mächtiger Flügelschläge sich in Wellen durch den Stein fortpflanzt und seinen Flug anzeigt.

                                                                            Heiner Muller


 O ANJO DA DESVENTURA


 Atrás dele o passado dá à costa, acumula entulho sobre as asas e os ombros, um barulho como o de bombos enterrados, enquanto à sua frente o futuro se amontoa e lhe comprime os olhos e  lhe rebenta os globos oculares como explodem estrelas, e transforma a palavra em mordaça sonorosa que o estrangula com o seu sopro. Durante algum tempo vê-se ainda o bater das suas asas, nesse murmúrio ouvem-se pedras a cair atrás, por cima e à sua frente, cada vez mais ruidosas, enquanto há o movimento impetuoso mas inútil, e espaçadas quando ele abranda. Então, fecha-se sobre ele o instante: no pedestal, rapidamente atulhado, o anjo da desventura encontra a paz, à espera da História na petrificação do voo, do olhar do sopro. Até que novo ruído de portentoso bater de asas se propaga em ondas através da pedra e anuncia  o seu voo.







Visões- a partir de Visões Fugitivas de S Prokofiev e de poetas russos e soviéticos


Respigar memórias através de sons. O mesmo material em linguagens diferentes, nem sempre acessíveis porque transgressoras por vezes.
Não ter nem «fazer ouvidos de mercador», eis o esforço que é pedido a quem se desloca para partilhar as nossas visões-escolhas individuais assumidas por um coletivo-proposta necessariamente fragmentária de interpretação do mundo e das suas loucuras.
Juntar poetas, cineastas e um compositor que, tendo vivenciado a revolução russa, um momento histórico cuja importância ninguém hoje contesta, abriram simultaneamente caminhos tão novos na senda da criação que foram censurados pelo novo regime; reuni-los para consubstanciar inquietações e desejos transversais ao ser humano de que foram porta-vozes; para relembrar o papel do sonho e da arte na luta contra a morte que naturalmente virá e contra aquela que frequentemente nos querem impor; para ouvir, recordar, falar a todos de tudo o que lhes doeu e que nos aflige também, para melhor e mais actuantemente vivermos- eis os pilares que estruturam as visões que corporizámos em múltiplos e imagéticos sons.

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