Anjos 2º
DER
GLUCKLOSE ENGEL
Hinter
ihm schwemmt Vergangenheit an, schüttet Geröll auf Flügel und Schultern, mit
Lärm wie von begrabnen Trommeln, während vor ihm sich die Zukunft staut, seine
Augen eindrückt, die Augäpfel sprengt wie ein Stern, das Wort umdreht zum
tönenden Knebel, ihn würgt mit seinem Atem. Eine Zeitlang sieht man noch sein
Flügelschlagen, hört in das Rauschen die Steinschläge vor über hinter ihm
niedergehn, lauter je heftiger die vergebliche Bewegung, vereinzelt, wenn sie
langsam wird. Dann schließt sich über ihm der Augenblick: auf dem schnell
verschütteten Stehplatz kommt der glücklose Engel zur Ruhe, wartend auf
Geschichte in der Versteinerung von Flug Blick Atem. Bis das erneute
Rauschen mächtiger Flügelschläge sich in Wellen durch den Stein fortpflanzt und
seinen Flug anzeigt.
Heiner Muller
O ANJO DA DESVENTURA
Atrás dele o passado dá à costa,
acumula entulho sobre as asas e os ombros, um barulho como o de bombos
enterrados, enquanto à sua frente o futuro se amontoa e lhe comprime os olhos
e lhe rebenta os globos oculares como explodem estrelas, e transforma a
palavra em mordaça sonorosa que o estrangula com o seu sopro. Durante algum
tempo vê-se ainda o bater das suas asas, nesse murmúrio ouvem-se pedras a cair
atrás, por cima e à sua frente, cada vez mais ruidosas, enquanto há o movimento
impetuoso mas inútil, e espaçadas quando ele abranda. Então, fecha-se sobre ele
o instante: no pedestal, rapidamente atulhado, o anjo da desventura encontra a
paz, à espera da História na petrificação do voo, do olhar do sopro. Até que novo
ruído de portentoso bater de asas se propaga em ondas através da pedra e
anuncia o seu voo.
Visões- a partir de Visões Fugitivas de S Prokofiev e de poetas russos e soviéticos
Respigar
memórias através de sons. O mesmo material em linguagens diferentes, nem sempre
acessíveis porque transgressoras por vezes.
Não ter nem
«fazer ouvidos de mercador», eis o esforço que é pedido a quem se desloca para partilhar
as nossas visões-escolhas individuais assumidas por um coletivo-proposta necessariamente
fragmentária de interpretação do mundo e das suas loucuras.
Juntar
poetas, cineastas e um compositor que, tendo vivenciado a revolução russa, um
momento histórico cuja importância ninguém hoje contesta, abriram simultaneamente
caminhos tão novos na senda da criação que foram censurados pelo novo regime;
reuni-los para consubstanciar inquietações e desejos transversais ao ser humano
de que foram porta-vozes; para relembrar o papel do sonho e da arte na luta
contra a morte que naturalmente virá e contra aquela que frequentemente nos
querem impor; para ouvir, recordar, falar a todos de tudo o que lhes doeu e que
nos aflige também, para melhor e mais actuantemente vivermos- eis os pilares
que estruturam as visões que corporizámos em múltiplos e imagéticos sons.
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