*
Quando alguém parte, tem de deitar
ao mar o chapéu com as
conchas
apanhadas ao longo do Verão,
e ir-se com o cabelo ao vento,
tem
de lançar ao mar
a mesa que pôs para o seu amor,
tem de deitar ao mar
o
resto de vinho que ficou no copo,
tem de dar o seu pão aos peixes
e
misturar no mar uma gota de sangue,
tem de espetar bem a faca nas ondas
e
afundar o sapato,
coração, âncora e cruz,
e ir-se com o cabelo ao
vento!
Depois, regressará,
Quando?
Não perguntes.
*
Há fogo sob a
terra,
e a chama é pura.
Há fogo sob a terra,
e é líquida a pedra dura.
Há uma corrente sob a terra,
que entra em nós às golfadas.
Há uma corrente sob a terra,
que nos chamusca as ossadas.
Virá um grande fogo,
virá uma corrente sobre a terra.
Nós seremos testemunhas.
e a chama é pura.
Há fogo sob a terra,
e é líquida a pedra dura.
Há uma corrente sob a terra,
que entra em nós às golfadas.
Há uma corrente sob a terra,
que nos chamusca as ossadas.
Virá um grande fogo,
virá uma corrente sobre a terra.
Nós seremos testemunhas.
Ingeborg Bachmann, O tempo aprazado.
(trad.: Judite
Berkemeier e João Barrento)
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