quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Cancioneiro popular angolano

Não quero, não caso mais:

triste é ser-se viúva.

Fantasma pediu-me fogo

e morte pediu-me a vida.

 


Cachimbo emprestado

não sacia o vício;

marido alheio,

não acaba a viuvez.

 

Numa cova muito funda

ficou- se a Donga.

Palavrinha que ouvi da moça,

muitas saudades me deixou.

 


Tu, fidalga e peneirenta,

hás de parir numa caverna.

Visita-te o leão,

dão-te água os leopardos.

 


Amei-a

e ela disse-me que não.

Quando chegou ao mercado,

Maximiano Alves (escultura em bronze) 1916
vendeu as ancas pelo pão.

 

 


Acostumei-me à esteira,

não durmo no colchão.

 

 




Bem o tínhamos dito, fujamos,

somos geração de compra e venda.

Mãe que me trouxeste ao mundo,

vem cá ver:

estou partido como uyombe,*

reclinado sobre o joelho.

 


Deus não tem amigos,

a morte desconhece o miserável.

Para onde irei, depois da morte?

irei vaguear de galho em galho.

 

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