Depois de Alepo
Aprendi a ler cedo.
Mas a verdade é: por vezes gostava que as letras
permanecessem desenhos por mais tempo, antes da
tirania das palavras aparecer sem convite, e
antes que outras línguas encontrassem na minha
grande
boca uma casa.
Não o digo literalmente.
Um dia, vamos voltar a Alepo, disseste tu.
Não o dizes literalmente.
Habibi, há quatro anos gritávamos por mudança,
e
agora somos cidadãos de fronteiras.
Vamos da Turquia para o Líbano, para o Egito,
mas sem encontrarmos Alepo.
Temos cupões de alimentação, e, critérios de
assistência,
e, empatia intermitente.
Já não escrevo mais poesia.
O barco está a afundar,
literalmente,
mas eu não quero sair deste quarto
Cheira a jasmim e tu sabes a liberdade.
Jehan Bseiso
(tradução de Joana Santos e/ou André Simões)
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