sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Coisas não resolvidas no espaço e no tempo

 

Depois de Alepo

 

Aprendi a ler cedo.

Mas a verdade é: por vezes gostava que as letras

permanecessem desenhos por mais tempo, antes da

tirania das palavras aparecer sem convite, e

antes que outras línguas encontrassem na minha

                                              grande boca uma casa.

Não o digo literalmente.

Um dia, vamos voltar a Alepo, disseste tu.

Não o dizes literalmente.

Habibi, há quatro anos gritávamos por mudança,

                     e agora somos cidadãos de fronteiras.

Vamos da Turquia para o Líbano, para o Egito,

                             mas sem encontrarmos Alepo.

Temos cupões de alimentação, e, critérios de

                 assistência, e, empatia intermitente.

 

Já não escrevo mais poesia.

  

O barco está a afundar,

literalmente,

mas eu não quero sair deste quarto

Cheira a jasmim e tu sabes a liberdade.

 

            Jehan Bseiso

(tradução de Joana Santos e/ou André Simões)





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