domingo, 21 de agosto de 2022

Juramento dos caçadores do Mandê (1222)

  

Todas as vidas são uma vida.

Uma vida, é sabido, vem sempre antes de outra,

Mas uma vida não é mais «antiga» nem mais respeitável do que outra,

Tal como não é superior a outra.

Os caçadores declaram:

Se todas as vidas são uma vida,

Então, todo o mal causado a uma vida exige reparação.

Portanto,

Que ninguém ataque gratuitamente o seu vizinho,

Que ninguém faça mal ao seu próximo,

Que ninguém torture o seu semelhante.

Os caçadores declaram:

Que todos cuidem do seu próximo,

Que todos honrem os seus progenitores,

Que todos eduquem as crianças como é devido,

Que todos «acautelem» e zelem pelas necessidades da sua família.

Os caçadores declaram:

 Que todos cuidem da terra dos seus pais.

Por terra ou pátria, faso,

Entenda-se também, e sobretudo, os homens;

Porquanto «todos os países e terras que vejam os homens

      desaparecerem do seu solo logo se tornarão nostálgicos».

Os caçadores declaram:

A fome não é uma coisa boa,

A escravatura também não é uma coisa boa;

Não há calamidade maior do que a existência de tais coisas no mundo.

Enquanto guardarmos o arco e a aljava,

A fome, se porventura voltar a ameaçar-nos,

Não tornará a matar no Mande;

A guerra não tornará a destruir as aldeias

Para aí capturar escravos;

Assim, a partir de hoje, ninguém tornará a colocar o freio

           na boca do seu semelhante

Para ir vendê-lo;

Ninguém será maltratado,

E muito menos morto

Por ser filho de um escravo.

Os caçadores declaram:

A essência da escravatura termina hoje,

Dentro de todas as casas e de todas as fronteiras do Mandê;

                              (…)

 

Cantado pela confraria dos caçadores do reino mandinga,

                 Antigo Império do Mali, em 1222

Estas fotografias não foram tiradas por mim.
Esculturas de reis ou nobres mandê do sec. XIII.



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