Viajo atrás do guarda-freio
um saco de livros na mão
o eléctrico quase cheio e na paragem da Sé lá saem
ao que diz o condutor e com ciência pura os
carteiristas
muito nervoso aquele que saiu pela porta da frente
E ao dobrar a esquina da Catedral subindo à luz
da Graça insinua
então o advogado dos passageiros
atirando na minha direção a nuca e o polegar
dirigido também
mas à frente do peito resguardado
e contando por certo que eu não o visse que
andaria
eu à
cata
pois então das carteiras vizinhas
Meio mundo ficou de rosto para mim
e eu como se todo o mundo
tivesse cristalizado
no clarão da coisa insinuada
Nisto de carteiristas
o saber de experiência feito dos guarda-freios faz a lei
E posso reafirmá-lo porque chegando à Graça
e em pedindo explicações
a criatura lá foi dizendo que
se eu reagia por alguma coisa seria Fiquei
a compreender melhor
o murro de Billy Budd no mestre de armas Claggart
na bela novela
de Herman Melville De
um eléctrico na Graça
ao navio Indomável ainda vai existindo a porra do
inexplicável
Abel Neves, 1956
Sem comentários:
Enviar um comentário