quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Os livros e a floresta

 

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Não virem as páginas para baixo

dizia a minha mãe

as palavras viradas ao contrário têm vertigens

a tinta estraga-se como um mau leite

 

os livros que nós folheávamos vinham da floresta

da dor das árvores

do grito da casca que se prolongava sob a pele das páginas

 

Nós líamos na obscuridade de agosto

quando o céu se livrava das suas estrelas cadentes

e a noite

por falta de margem

se dilatava até à noite

 

Vénus Khoury Ghata, Líbano, 1937

       (a tradução, do francês, é minha)


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